eu no me nu
Junho de 2016
Autoretrato, série de 33 variações. Serigrafia de
quadricomia sobre papel cartão 200g.
25×66cm
68 cópias
Essa série é um conjunto de auto retratos feitos em serigrafia de quadricromia à base d’água sobre papel cartão 200g, 25×66cm. O procedimento de execução dessa obra começou com uma fotografia minha de cara espantada com um forro de mesa amarrado ao pescoço. Essa foto foi convertida em 3 telas de serigrafia, cada uma com um canal de cor de impressão: amarelo, magenta e ciano. Em seguida fiz impressões sucessivas com todas as possibilidades de combinações: somente uma cor, duas cores, três cores, uma cor no canal trocado, duas cores com um canal de cor trocado, duas cores com dois canais trocados, três cores com dois canais trocados, etc. Com essas impressões, corretas e trocadas, obtive 33 variações de cores dessa obra. Na parte superior de todas impressões está escrito o título-poema da obra “eu no me nu”
O principal tema da obra é a reprodução técnica que passou da esfera econômica e produtiva para a própria constituição do sujeito e suas relações. Ao usar uma técnica de impressão em larga escala em um autorretrato a possibilidade da individualidade se vê perdida e dissolvida como um exemplar dentre vários da linha de produção.A saturação das cores e misturas de canais geram estranhamentos que perturbam uma simulação verossímil da fotografia, mas escancara o caráter de massificação da imagem nos contextos industriais, a partir do pareamento da imagem de uma pessoa como um produto que cada vez mais é artificialmente manipulado como representação, identidade e corpo. A retícula da serigrafia impressa na obra emula a retícula de impressão original do forro da mesa de desenho quadriculado com frutas intercaladas em seus espaços vazios. A amarração do forro ao redor do pescoço pode ser lida tanto quanto um guardanapo de alguém está prestes a comer; quanto moldura para uma cabeça decapitada sendo servida na mesa, imagem célebre na iconografia clássica em pinturas e contemporânea em capas de discos.
O poema-título “eu no me nu” insinua esse limiar entre a sensualidade e o consumo, ao evocar a nudez e o menu no interior da mesma frase. A própria fragmentação em sílabas, que são palavras e pedaços de palavras, entra em sintonia com a técnica serigráfica de fragmentação das cores em canais. Também é possível interpretar o título como uma exclamação, como as legendas dos memes, emitida pelo rosto espantado que de repente se descobre comida/ produto; ou quem sabe é o próprio nome do prato, nesse caso o nome da obra. Serve-se o autor.
Outra camada de ressonância é a coincidência das iniciais do meu nome (Arthur Moura Campos) com o nome das cores usadas na impressão (Amarelo Magenta Ciano). Tal paralelismo abre a leitura de que as múltiplas versões desse auto retrato seriam múltiplas versões do autor. Afinal os nomes próprios podem ser tão aleatórios e massificados quanto o nome das cores. Colocando em pé de igualdade a dissolução da autoria em um mundo que preza a individualização consumista e identitária, e o acaso das qualidades que ocorrem no mundo prático.